Violência obstétrica em Portugal: prevalência, tipologias e impacto
Carvalho, Bruna Julieta da Silva
Thesis
Dissertação de mestrado em Psicologia da Justiça
A Violência Obstétrica define-se, de uma forma geral, como todo o tipo de abuso e/ou maus tratos sofridos pela mulher, exercido por profissionais de saúde, e pode ocorrer em diferentes
fases como a gravidez, parto e pós-parto, bem como em situações de aborto, pós-aborto e ciclo
reprodutivo. A violência obstétrica tem sido identificada como um problema transversal e,
atualmente, não existem dados epidemiológicos em Portugal que permitam compreender a
extensão deste problema. Este estudo, de metodologia quantitativa, tinha como objetivo determinar
a prevalência da violência obstétrica em Portugal, conhecer as diferentes tipologias relatadas,
nomeadamente em mulheres com história de aborto e/ou gravidez de termo e analisar o impacto
ao nível da depressão pós-parto e perceção de vinculação materna. Neste estudo participaram
116 mulheres parturientes e/ou com história de aborto, que recorreram a serviços hospitalares
públicos ou privados em Portugal, com uma média de idades de 37 anos (DP = 7.23),
maioritariamente de nacionalidade portuguesa (87.9%). Os resultados demostram uma
prevalência de violência obstétrica de 74.1%, com o uso inapropriado de procedimentos e a
violência psicológica a serem as mais relatadas. No que concerne ao impacto, 59.7% destas
mulheres reportaram sintomatologia compatível com Depressão Pós-Parto, mas simultaneamente
uma perceção positiva acerca da vinculação materna. Este estudo evidencia a necessidade urgente
de políticas e intervenções direcionadas à formação e sensibilização dos profissionais de saúde
para prevenir a violência obstétrica, bem como a disponibilização de apoio psicológico para as
mulheres afetadas, visando mitigar os impactos negativos na saúde mental e promover um
ambiente de cuidado respeitoso e seguro.
Obstetric Violence is defined, in general, as any type of abuse and/or mistreatment suffered by
women, conducted by health professionals, and can occur at different stages such as pregnancy,
childbirth and postpartum, as well as in situations of abortion, post-abortion and reproductive cycle.
Obstetric violence has been identified as a transversal problem and, currently, there is no
epidemiological data in Portugal that allows us to understand the extent of this problem. This study,
using a quantitative methodology, aimed to determine the prevalence of obstetric violence in
Portugal, to understand the different typologies of violence reported, particularly in women with a
history of abortion and/or full-term pregnancy, and to analyze the impact on postpartum depression
and perception of maternal attachment. 116 women in labor and/or with a history of abortion
participated in this study, who used public or private hospital services in Portugal, with an average
age of 37 years (SD = 7.23), mostly of Portuguese nationality (87.9%). The results show a
prevalence of obstetric violence of 74.1%, with the inappropriate use of procedures and
psychological violence being the most reported. Regarding the impact, 59.7% of these women
reported symptoms compatible with Postpartum Depression, but simultaneously a positive
perception about the maternal bond. This study highlights the urgent need for policies and
interventions aimed at training and raising awareness among health professionals to prevent
obstetric violence, as well as providing psychologicalsupport for affected women, aiming to mitigate
the negative impacts on mental health and promote an environment of respectful and safe care.