Experiências adversas, vinculação e crenças sexuais em pessoas recluídas por crimes sexuais
Mendes, Márcia Costa
Thesis
Dissertação de mestrado em Psicologia da Justiça
Este estudo investigou a relação entre experiências adversas na infância, vinculação e crenças
sexuais em indivíduos recluídos por crimes sexuais em comparação com membros da comunidade. A
amostra foi composta por 77 participantes, sendo 38 reclusos e 39 da comunidade, avaliados através
das escalas ACE-IQ, EMWSS, EMBU-MI, EVA e EAS. A recolha de dados ocorreu em três momentos,
utilizando questionários de autorrelato, análise de documentação processual dos participantes
reclusos e uma recolha online junto da comunidade. Os resultados indicaram que os reclusos
relataram um número significativamente mais elevado de experiências adversas (M = 8.39, DP = 5.44)
em comparação com a amostra comunitária (M = 5.25, DP = 4.31). Apesar de a maioria dos
participantes (n = 27, 35.1%) ter reportado um estilo de vinculação seguro, a nível do estilo de
vinculação insegura, os mais reportados foram a vinculação desligada (n = 14, 18.2%) e a vinculação
preocupada (n = 12, 15.6%), sendo que ofensores e comunidade não se diferenciaram
estatisticamente. Além disso, verificou-se que as experiências adversas estão fortemente associadas
aos tipos de práticas educativas e à vinculação na infância, refletindo-se posteriormente na vinculação
na idade adulta. As crenças sexuais mostraram uma tendência para valores mais elevados de
ansiedade e confiança perante outras pessoas no contexto da vinculação na idade adulta. Esses
resultados destacam a necessidade de compreender esses fenómenos em conjunto para melhor
entender o seu impacto no comportamento de ofensores sexuais, contribuindo assim para o
desenvolvimento de diretrizes de intervenção junto a essa população.
This study investigated the relationship between adverse childhood experiences, attachment, and
sexual beliefs in individuals incarcerated for sexual crimes compared to community members. The
sample consisted of 77 participants, with 38 incarcerated individuals and 39 community members,
evaluated using the ACE-IQ, EMWSS, EMBU-MI, EVA, and EAS scales. Data collection occurred in three
stages, utilizing self-report questionnaires, analysis of the incarcerated participants' procedural
documentation, and an online survey among the community. The results indicated that the
incarcerated individuals reported a significantly higher number of adverse experiences (M = 8.39, SD
= 5.44) compared to the community sample (M = 5.25, SD = 4.31). Although the majority of
participants (n = 27, 35.1%) reported a secure attachment style, among those with insecure
attachment styles, the most reported were avoidant attachment (n = 14, 18.2%) and anxious
attachment (n = 12, 15.6%), with no significant statistical differences between offenders and the
community. Furthermore, these adverse experiences were found to be strongly associated with the
types of parenting practices and childhood attachment, subsequently reflecting in adult attachment.
Sexual beliefs showed a tendency towards higher levels of anxiety and trust in others in the context of
adult attachment. These results highlight the need to understand these phenomena together to better
comprehend their impact on the behavior of sexual offenders, thereby contributing to the development
of intervention guidelines for this population.