Qual é a linha que define o que é ou não é convivência saudável com a tecnologia?
Como funcionam as aplicações móveis para nos levar a ficar "viciados"?
Há uma linha vermelha para sabermos quando a utilização é excessiva?
Estas são as perguntas que o artigo "Estamos viciados no telemóvel. Porquê?", publicado na Notícias Magazine, do JN, buscou responder.
Em entrevista para a jornalista Sara Sofia Gonçalves, Alberto Crego, investigador do Laboratório de Neurociência Psicológica do CIPsi explica que "a adição à Internet e aos telemóveis é comportamental, ou seja, diferentes comportamentos produzem uma recompensa a curto prazo que pode levar à persistência do comportamento, apesar do conhecimento das consequências adversas que este pode ter.”
O uso dos smartphones e das redes sociais ainda não é, para já, considerado no manual de diagnóstico de perturbações pela Associação Americana de Psiquiatria (APA) mas o impacto do smartphone e das aplicações móveis na vida das pessoas tem tido um destaque tão grande que a própria APA está a considerar uma revisão para que o uso das redes sociais possa vir a ser incluído na lista de risco de adição.
Para o investigador é “evidente que o telemóvel e as redes sociais podem ter um componente aditivo-viciante, e é cada vez mais frequente encontrar jovens com usos compulsivos e problemáticos”.
Sobre o funcionamento do cérebro Alberto Crego explica que “as substâncias como o álcool, a cocaína, entre outras, promovem a libertação de dopamina de forma artificial”. A dopamina, “quando libertada em quantidades naturais e através de atividades como o sexo, a alimentação ou o exercício, é imprescindível à sobrevivência do ser humano, já que nos leva a repetir estas atividades” e, “no caso do uso de telemóvel e redes sociais, essa libertação de dopamina acontece em doses baixas e por picos, o que nos deixa reféns da utilização contínua e incessante destes dispositivos.”
O investigador sublinhou ainda que “a aceitação e o reconhecimento social, que recebemos através dos likes, dos comentários, entre outros, são muito importantes biologicamente para a nossa vida, ainda mais na adolescência, quando a nossa personalidade ainda não está totalmente formada" sendo por isso que é nesta faixa etária que ocorre a maior incidência da dependência do telemóvel.”
Alberto Crego destacou também que “as mudanças neuroestruturais e neurofuncionais, que acontecem no nosso cérebro em idades precoces, predispõem os jovens e os adolescentes à procura de novas experiências, a uma maior impulsividade, a um menor pensamento planeado e controlo das suas atitudes, o qual os faz mais vulneráveis aos comportamentos de risco”.
Alberto Crego sobre o vício dos videojogos:
http://www.nos.uminho.pt/Article.aspx?id=3551