Intervenção vocacional em contexto escolar: avaliação de um programa longo em classe com adolescentes
Königstedt, Martina
Tese
Tese de doutoramento em Psicologia (especialização em Psicologia Vocacional)
A exploração constitui um processo chave do desenvolvimento vocacional na
adolescência (Blustein, 1992, 1997; Jordaan, 1963), não só porque é um elemento
essencial na tomada de decisão e favorece a construção de identidade (Super, 1990;
Porfeli & Skorikov, 2010), mas também, devido às suas funções adaptativas,
aumentando a capacidade dos sujeitos para lidar com as transições ao longo da sua vida
(Flum & Blustein, 2000; Flum & Kaplan, 2006). A investigação demonstrou a eficácia
da intervenção vocacional na promoção da exploração na adolescência (Faria, 2008;
Königstedt & Taveira, 2010), bem como a importância da interação entre pares focada
em temas vocacionais no fomento da exploração (Kracke, 2002), e das condições
pessoais para uma exploração confiante (Taveira & Moreno, 2003). No entanto, existe
pouco conhecimento sobre a estabilidade da mudança da exploração vocacional como
resultado da intervenção, ou sobre o papel de fatores como o género (Faria, Taveira, &
Saveedra, 2008), a idade, o estatuto socioeconómico da família (SEE) (Sobral,
Gonçalves, & Coimbra, 2009), e as crenças exploratórias, no estatuto e
desenvolvimento da exploração. Este trabalho tenta responder a estas limitações.
Pretendemos analisar o efeito de uma intervenção conduzida em sala de aula ao longo
de um ano, na promoção da exploração vocacional e na diminuição das dificuldades de
tomada de decisão vocacional. Tencionamos descrever a mudança ocorrida durante a
intervenção na exploração vocacional e nas dificuldades de tomada de decisão dos
adolescentes. Em seguida, examinamos a estabilidade das diferenças interindividuais na
mudança intraindividual (análise de tracking) da exploração vocacional. Além disso,
propomo-nos estudar o efeito mediador de fatores invariantes e variantes no tempo,
sobre o estado e desenvolvimento do comportamento exploratório dos adolescentes.
Baseado nas taxas de mudança dos sujeitos e mediante métodos quantitativos e
qualitativos, tentamos ainda identificar diferenças iniciais no processo de exploração
vocacional entre indivíduos que apresentam padrões de mudança distintos, a fim de
compreender diferentes tipos de resposta à intervenção. Também conduzimos e
avaliamos uma intervenção breve com os pais dos alunos e usamos métodos qualitativos
para analisar a perceção dos estudantes e professores sobre aspetos relacionados com o
processo e os resultados da intervenção. Conduzimos uma intervenção vocacional com a
duração de um ano, destinada à promoção da exploração e do planeamento em
estudantes portugueses do 9º ano, com um total de 183 alunos (grupo de tratamento =
82, grupo controle = 101, média de idade = 14,07, desvio-padrão = 0,70, 49,2%
raparigas). Os dados quantitativos foram recolhidos com base num design longitudinal
de investigação, com três momentos. A intervenção apoia-se na procura autónoma e
apoiada de informação, na realização de experiências do mundo real, na partilha com os pares, e em atividades de modelação. A aplicação do Questionário de Dificuldades de
Tomada de Decisão de Carreira (CDDQ; Gati & Saka, 2001b) não revelou redução
significativa das dificuldades em consequência da intervenção vocacional. Com base na
modelagem hierárquica dos resultados do Career Exploration Survey (CES; Stumpf,
Colarelli, & Hartman, 1983), a medida de resultado, testamos os efeitos do tempo e da
condição do estudo sobre as trajetórias, tendo sido registado um efeito significativo nos
declives do Estatuto de Emprego, Quantidade de Informação, Exploração do Meio,
Exploração de Si Próprio/a, Exploração Sistemática Intencional e Satisfação com a
Informação, o que indica um aumento linear entre os pontos de medição e um efeito
favorável da intervenção sobre as trajetórias de mudança. De seguida calculámos o
índice de tracking de Foulkes e Davies (1981) (γ) para o grupo de intervenção, com o
objetivo de descrever a mudança, assim como a estabilidade individual (consistência de
desempenho ao longo do tempo para cada sujeito) e a do grupo (manutenção da posição
relativa) para as seis dimensões referidas. No que se refere ao tracking intraindividual,
75% a 95% dos sujeitos revelaram baixa a elevada estabilidade na mudança (γ > 0.5).
As estimativas do grupo mostraram índices de tracking baixos a moderados (0.532 < γ <
0.617) para todas as dimensões. Adicionalmente, testámos a associação entre fatores
invariantes (condição do estudo, sexo, idade, SEE) e variantes no tempo (crenças de
exploração acerca do mercado de emprego e instrumentalidade da procura) e a linha de
base e o declive das trajetórias dos comportamentos de exploração. Encontrámos vários
efeitos de fatores invariantes no tempo sobre a linha de base, mas não sobre o declive
dos comportamentos de exploração vocacional. Adicionalmente, todas as crenças de
exploração vocacional revelaram ter efeitos positivos e significativos, embora distintos,
sobre o declive das trajetórias dos comportamentos de exploração vocacional.
Finalmente, comparámos os indivíduos com perfis de mudança positivos e mistos e
testámos a igualdade das médias dos grupos (t-teste) na linha de base, para as variáveis
de exploração da carreira, convertidas em normal reduzida. Foram registadas diferenças
significativas para oito das doze médias, indicando claramente a existência de diferentes
perfis iniciais de exploração vocacional entre os grupos. Os dados qualitativos apoiam a
existência de diferenças respetivas no processo de exploração. Embora os professores
revelem diferentes atitudes e pontos de vista, são unânimes quanto aos ganhos obtidos
pelos jovens, na aquisição de competências transversais relevantes. Os resultados da
intervenção junto dos pais mostram que quase todos os pais estabelecem uma relação
positiva entre os assuntos abordados na sessão e a possibilidade de fornecer apoio aos
seus filhos. Os resultados serão discutidos com referência a literatura relevante.
Finalmente, indicamos as limitações do nosso estudo e apontamos direções para a
investigação futura.
Exploration is a key process of adolescent’s career development (Blustein, 1992, 1997;
Jordaan, 1963), not only because it constitutes an essential element in decision-making
and serves identity construction (e.g., Super, 1990; Porfeli & Skorikov, 2010), but also
due to its adaptive functions, as it enhances ability of individuals to cope with
transitions throughout their life-span (Flum & Blustein, 2000; Flum & Kaplan, 2006).
Research has shown the efficacy of career intervention in promoting exploration in
adolescence (e.g., Faria, 2008; Konigstedt & Taveira, 2010), as well as the importance
of career related peer interaction on intensifying career exploration (Kracke, 2002), and
of personal conditions for confident exploration (Taveira & Moreno, 2003). Yet little is
known about stability of change in career exploration due to intervention or the role that
factors like gender (e.g. Faria, Taveira, & Saveedra, 2008), age, socioeconomic status
(SEE) of family (Sobral, Gonçalves, & Coimbra, 2009), and exploratory beliefs play on
status and development of exploration. This work tries to respond to these research
limitations. We want to analyze the effect of a one-year classroom-based intervention
on promoting career exploration and diminishing career decision making difficulties.
We intend to describe change in adolescents’ career exploration and decision making
difficulties during intervention. Next we examine the stability of interindividual
differences in intraindividual change (tracking analysis) of career exploration. Moreover
we propose to study mediating effects of time-invariant and time-varying factors on
status and development of adolescents’ exploratory behavior. Based on individuals’
change rates and by means of quantitative and qualitative methods, we finally try to
identify initial and process differences in career exploration between individuals who
display different patterns of change, in order to comprehend distinct types of response
to intervention. We also conduct and evaluate a brief intervention with students’ parents
and use qualitative methods to analyze students’ and teachers’ perception on several
aspects related to process and results of intervention. We directed a one year career
intervention on exploration and planning in Portuguese 9th graders, with a total of 183
students (treatment group=82, control group=101, mean age=14.07, standard deviation=
.70, 49.2% girls) participating in the study. Quantitative data were collected using a
three wave longitudinal design. The intervention relayed on autonomous and supported
information seeking, real world experiences, sharing with peers, and modeling
activities. Using Career Decision Difficulties Questionnaire (CDDQ; Gati & Saka,
2001b) we found no significant reduction of difficulties due to career intervention. By
means of multilevel modeling and using the Career Exploration Survey (CES; Stumpf,
Colarelli, & Hartman, 1983) as outcome measure, we tested for effects of time and
group condition on trajectories and found significant effects on slope of Employment Outlook, Amount of Information, Environmental Exploration, Self-Exploration,
Intended Systematic Exploration, and Satisfaction with Information, indicating a linear
increase across measurement points and favorable effect of intervention on change
trajectories. We than calculated the Foulkes and Davies (1981) tracking coefficient (γ)
for the intervention group to describe changes as well as individual stability
(consistence of performance over time for each subject) and group stability
(maintenance of relative position) in those six dimensions. Regarding intra-individual
tracking, 75% to 95% of subjects displayed low to high stability of change (γ > 0.5).
Group estimates showed low to moderate tracking indexes (0.532 < γ < 0.617) for all
dimensions. In addition we tested for the association of time-invariant (research
condition, gender, age, SEE) and time varying factors (exploratory beliefs about the
labor market and search instrumentality) on baseline and slope of trajectories of
exploratory behaviors. We found several effects of time-invariant factors on baseline,
but not on slope of career exploration behaviors. In addition all career exploration
beliefs were shown to have significant positive, however different, effects on slope of
trajectories of career exploration behaviors. Finally we compared individuals with
positive and mixed change profiles and tested for equality of means (t-test) of group
baseline career exploration z-scores. Significant differences between eight of twelve
means were found, indicating clearly different initial career exploration profiles
between groups. Qualitative data supported the existence of related process differences.
Even though teachers revealed different attitudes and points of view, all agreed
regarding gains achieved in acquiring transversal skills that are of major importance for
young people. Results of parents’ intervention showed that virtually all parents establish
a positive link between subjects covered in session and the possibility of providing
support for their child. Findings will be discussed with reference to relevant literature.
Finally we indicate limitations of our study and point out directions for further research.