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Como ser uma Ragazza discursos de sexualidade numa revista para raparigas adolescentes

Como ser uma Ragazza discursos de sexualidade numa revista para raparigas adolescentes

Magalhães, Sara

| 2011 | URI

Tese

Tese de doutoramento em Psicologia
(área de especialização em Psicologia da Educação)
A sexualização do quotidiano é nos dias de hoje mais do que uma realidade, um facto a ter em
conta no desenvolvimento adolescente. Dada a sua ampla expansão nos mais variados contextos
sociais, esta tem vindo a estabelecer-se como elemento determinante na construção das
identidades.
No que diz respeito às/aos jovens, esta sexualização é mais evidente ao nível dos media.
Estas/es despendem, actualmente, mais tempo com os meios de comunicação do que em
ambiente escolar ou familiar. Tendo em conta que a adolescência é um período complexo e
multi-determinado de desenvolvimento, o papel destes conteúdos, veiculados de forma constante
e contínua, revela-se determinante no estabelecimento de normas sociais. Estas acentuam um
duplo padrão de sexualidade que contribui para uma constante penalização social das mulheres,
pela indicação de comportamentos considerados adequados e aos quais se devem restringir, por
comparação a uma atitude mais flexível para o sexo masculino.
Assim sendo, o nosso objectivo é contribuir para maior conhecimento sobre a produção
de conteúdos mediáticos para raparigas adolescentes em Portugal, bem como compreender
quais as construções discursivas que as revistas para este público disponibilizam sobre a
sexualidade e identidade feminina. Ou seja, de que forma os conteúdos veiculados por estas
publicações orientam a construção da sexualidade das adolescentes face a um modelo de ser
rapariga mais tradicional e puritano ou mais empoderado.
Neste sentido, tomamos por base a edição de 2007 da revista Ragazza1, analisando
nomeadamente três tipologias de conteúdo distintas: cento e quarenta (140) anúncios
publicitários, trinta e sete (37) cartas de leitora e respectivas respostas, e trinta e dois (32)
artigos e reportagens. Para a selecção destes conteúdos foram tidos em conta um conjunto de
critérios. Para os anúncios publicitários analisaram-se apenas os exemplares que tinham
representada pelo menos uma rapariga; nas cartas de leitora e nos artigos e reportagens o
critério foi abordar a sexualidade, sexo, saúde sexual e reprodutiva e/ou a presença, na sua
mensagem literal, de scripts de sexualidade (Simon & Gagnon, 1986, 1987). Metodologicamente, uma vez que pretendíamos identificar os discursos presentes nestes
conteúdos, optámos pela Análise de Foucaudiana de Discurso (Willig, 2003, 2008) que nos
possibilitou a localização de construções discursivas e discursos, a definição de orientações de
acção e a identificação de possíveis posicionamentos, práticas e subjectividades despoletadas
pelos discursos encontrados. Deste processo de análise resultou a identificação de três
principais construções discursivas que percorrem transversalmente o corpus, apresentando-se
contudo como mais salientes em conteúdos específicos. Assim, ser rapariga é… Tornar-se sexy!,
Ter de saber (sempre) mais, e Construir uma relação heterossexual.
A construção discursiva Tornar-se sexy! emerge sobretudo na publicidade e nos artigos e
reportagens e sistematiza informações ao nível da atractividade física e da sexualidade. Esta
concretiza-se recorrendo a mecanismos discursivos que apresentam, entre outros aspectos,
informações consideradas relevantes no que diz respeito à imagem e modelação corporal. Uma
segunda construção discursiva – Ter de saber (sempre) mais – aparece nas cartas de leitora,
artigos e reportagens. Nesta as raparigas são apresentadas como seres incompletos
sexualmente e por essa razão precisam recorrer constantemente a novas informações sobre
sexualidade para alcançarem o nível desejável definido pelo masculino e assim conseguirem
seduzir. Por último, identificámos ainda a construção discursiva Construir uma relação
heterossexual, visível em cartas de leitora e artigos e reportagens. Centra-se em questões de
identidades, sendo que a identidade feminina é aqui igualada a um vasto e profundo
conhecimento sobre o masculino e sobre relações de intimidade heterossexuais. Por fim, é ainda
de destacar que cada uma destas construções discursivas é permeada por vários mecanismos
discursivos.
A análise dos resultados permite-nos concluir que uma rapariga quando inicia a sua
adolescência já deve possuir um repertório de papéis, normas e deveres que deverão ser
tomados em conta no seu dia-a-dia. Mais, existe ainda uma constante monitorização desta
adequação das raparigas às normas sociais, sendo que esta deverá não só ser exterior mas
também auto-referencial. Concluímos ainda que as jovens se encontram constantemente
expostas a mensagens contraditórias que lhes apresentam uma aparente emancipação
mediante um conjunto de outras condições de subjugação. Por fim, podemos ainda afirmar que
estas publicações possuem uma visão de rapariga ou de mulher como um indivíduo que possui
um handicap social que necessita de constante atenção e esforço pessoal para melhorar se
aproximar-se do masculino.
Quotidian sexualization is, in these days, more than a reality, is a fact to be considered in
adolescent development. Due to its wide expansion in the most varied social contexts, this has
been establishing itself as a crucial element on identities construction.
Concerning young people, this sexualization is more evident it media. They spend,
nowadays, more of their time with mass media rather than in school or family environments.
Taking into account that adolescence is a complex and multi-determined period of time, the role
of these contents, run constantly and continuously, reveals itself to be determinant on social
norms establishment. These norms accentuate a sexual double standard that constitutes a
constant social penalty upon women, by pointing which behaviors are considered adequate and
to which one must restrain, when comparing to a more flexible attitude towards the masculine.
Therefore, our goal is to contribute to a greater knowledge about the relationship
between media contents production targeted at Portuguese adolescent girls, as well as to
understand which discoursive constructions are displayed by these magazines concerning
sexuality and feminine identity. In other words, in which way is the content run by these
publications guiding the adolescents‘ sexuality construction owing to a more traditional and
puritan or a more empowered model of being a girl.
Thus, we based our research on the 2007 Portuguese edition of Ragazza magazine2,
analyzing particularly three types of distinct contents: one hundred and forty (140)
advertisements, thirty seven (37) agony aunts‘ letters and their answers, and thirty two (32)
articles and reports. In order to select these contents we considered some criteria. To the
advertisements we only analyzed the ones that had at least one girl figured; to agony aunt‘s
letters and articles and reports the criteria was to approach sexuality, sex, sexual and
reproductive health as a theme and/or to have present, in its literal message, a sexual script
(Simon & Gagnon, 1986, 1987).
Methodologically, once we intended to identify the discourses presents in these contents,
we chose Foucauldian Discourse Analysis (Willig, 2003, 2008) than has allowed us to locate discoursive constructions and discourses, to define action orientation and possible positionings,
practices e subjectivities triggered by the identified discourses. From this analysis process we
were able to identify three main discoursive constructions that travel across the analyzed corpus
even though they are more salient on specific contents. So, to be a girl is … To become sexy!,
(Always) Have to know more, and Construct a heterosexual relationship.
The discoursive construction To become sexy! rises mainly from advertisements and
articles and reports and systematizes information concerning physical attractiveness and
sexuality. It manifests itself using discoursive mechanisms that present, among other aspects,
informations considered relevant to what concerns body image and contouring. A second
discoursive construction – (Always) Have to know more – appears in agony aunt‘s letters and
articles and reports. Here girls are portrayed as sexually incomplete beings and therefore need to
run constantly on new informations about sexuality in order to achieve the presupposed male
level and to be able to allure. Finally, we identified also the discoursive constructions Construct a
heterosexual relationship, which can be seen through agony aunt‘s letters and articles and
reports. It focuses on identity issues, with feminine identity being considered equal to a wide and
profound knowledge on the masculine and about heterosexual intimate relationships. Lastly, we
must highlight that each one of these discoursive constructions are permeated by several
discoursive mechanisms.
The results analysis allows us to conclude that a girl when initiates her adolescence has
already a repertoire of roles, norms and duties that must be taken into account on a daily basis.
Plus, there is a constant monitoring of this adequacy from girls to social norms, and this shall not
only be exterior but also self-referent. We conclude also that young girls find themselves
constantly exposed to contradictory messages that are presented to them as apparently
emancipator whereas a number of other subjugation conditions. Finally, we can also state that
these publications see girls and women as an individual who has a social handicap that needs
constant attention and personal effort in order to improve and approach the masculine.

Publicação

Ano de Publicação: 2011