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Avaliação da eficácia de um programa de intervenção psicológica breve em pacientes pós-síndroma coronária aguda

Avaliação da eficácia de um programa de intervenção psicológica breve em pacientes pós-síndroma coronária aguda

Fernandes, Ana Cláudia Vieira Lopes

| 2012 | URI

Thesis

Tese de doutoramento em Psicologia (ramo de conhecimento em Psicologia da Saúde)
O objectivo principal deste trabalho consistiu em avaliar a eficácia de um programa de
intervenção psicológica breve, com aplicação na fase de internamento pós-síndroma
coronária aguda (SCA), com carácter multimodal e multidisciplinar, em comparação
com uma condição de controlo (modalidade de intervenção médica tradicional). A
amostra foi constituída por 121 pacientes diagnosticados com SCA (enfarte agudo do
miocárdio – EAM / angina de peito instável – AI), em regime de internamento no
serviço de cardiologia de um hospital central da região norte de Portugal. O grupo
experimental (GE) foi composto por 65 sujeitos e o grupo de controlo (GC) por 56. O
plano do estudo é experimental (randomized controlled trial) com aleatorização dos
sujeitos por duas condições (GE e GC), e longitudinal, compreendendo avaliações em
quatro momentos: pré-teste (T1: admissão hospitalar), pós-teste (T2: alta hospitalar),
seguimento de 1 e 2 meses pós-intervenção (T3 e T4, respectivamente). Foram
efectuadas análises iniciais nas variáveis estudadas, de modo a testar a equivalência dos
dois grupos no momento pré-teste. Os sujeitos do GE foram submetidos ao programa de
intervenção psicológica e à intervenção médica standard dos serviços de cardiologia. O
GC foi sujeito apenas aos serviços médicos habituais (standard). O programa de
intervenção psicológica breve hospitalar é constituído por 2 sessões de 1h e 15 minutos,
aplicadas no internamento, e 1 sessão de seguimento pós-alta hospitalar de 20 minutos.
Os instrumentos utilizados na investigação avaliam como variáveis de resultado de
intervenção a depressão, a ansiedade (HADS), as representações de doença (IPQ-B),
os conhecimentos acerca da doença e tratamento (Questionário de Conhecimentos) e os
hábitos de saúde e estilo de vida (Questionário de Hábitos de Saúde). Quatro Hipóteses
foram testadas: a Hipótese 1 previu um efeito significativo da intervenção
biopsicossocial (GE), do pré-teste para o pós-teste, com melhores resultados pós-SCA
do que no grupo de controlo (GC), nas variáveis psicossociais estudadas; a Hipótese 2
previu que os ganhos obtidos no GE ao nível das variáveis psicossociais se mantivessem
no tempo (1 e 2 meses pós-intervenção); a Hipótese 3 previu que o estado emocional do
doente, as suas cognições de doença e tratamento e o seu nível de conhecimentos no
pré-teste, tivessem um papel moderador no impacto da intervenção ao nível das
variáveis de resultado estudadas; a Hipótese 4 previu um efeito significativo do tipo de
intervenção (com e sem intervenção cirúrgica) nas variáveis psicossociais no pós-alta e
seguimentos. O estudo foi complementado com Análises Exploratórias, tendo-se explorado o impacto dos aspectos demográficos e dos aspectos clínicos nas variáveis
psicossociais estudas no pré-teste e na resposta à intervenção. A Hipótese 1 foi
confirmada, tendo os resultados obtidos revelado um efeito positivo da intervenção no
GE em comparação com o GC em termos da maioria das variáveis psicossociais. Os
resultados obtidos confirmaram a Hipótese 2, tendo-se verificado a manutenção dos
ganhos pós-intervenção ao longo do tempo, registando-se mesmo uma melhoria no
seguimento de 2 meses relativamente aos resultados obtidos no pós-teste. A Hipótese 3
foi confirmada, verificando-se, de um modo geral, que em termos de efeitos de
moderação no impacto da intervenção a curto e médio prazo, o nível de conhecimentos
sobre a doença e tratamento, e as cognições de doença, foram os moderadores mais
importantes, afectando a resposta à intervenção em termos do estado emocional. A
Hipótese 4 não se confirmou para a maioria das variáveis de resultado, quer em termos
de efeitos independentes do tipo de intervenção médica na evolução do paciente até 2
meses pós-alta, quer em termos de efeitos de interacção do tipo de intervenção com a
intervenção psicossocial. Quanto às Análises Exploratórias, constatou-se que as
variáveis psicossociais no pré-teste foram influenciadas por vários aspectos
demográficos, não se tendo registado efeitos significativos das variáveis clínicas. De
igual modo, os resultados indicaram uma influência significativa de várias variáveis
clínicas e demográficas na resposta à intervenção biopsicossocial. São discutidas as
implicações destes resultados em termos do desenvolvimento de estudos futuros e da
reabilitação cardíaca. Os resultados demonstram a eficácia a curto e médio prazo do
programa de intervenção desenvolvido e avaliado neste estudo, indicando um efeito
positivo da intervenção em aspectos muito importantes da reabilitação cardíaca pós-
SCA e que se associam a uma diminuição da vulnerabilidade cardíaca, nomeadamente
em termos da melhoria do estado emocional, das representações de doença e dos hábitos
de saúde. O aumento significativo do nível de conhecimentos, confirma a importância
da componente educativa acerca da doença, tratamento e reabilitação em termos da
eficácia da intervenção psicológica neste domínio. De igual modo, os resultados obtidos
reforçam a ideia defendida por dados de investigação recentes, de que o período de
internamento constitui um momento chave para a intervenção psicossocial preventiva e
do papel determinante dos factores psicológicos nesta fase, na recuperação futura.
Esperámos que os resultados deste estudo contribuam para a integração necessária da
intervenção psicológica na fase I dos programas de reabilitação cardíaca hospitalares.
The main goal of this investigation was to evaluate the efficacy of a brief psychological
intervention program implemented during hospitalization for acute post-coronary
syndrome (ACS). The program had a multimodal and multidisciplinary approach. It was
a randomized controlled trial which compared an experimental condition (psychosocial
intervention and traditional care) with a control condition (traditional medical care). The
sample consisted of 121 patients diagnosed with ACS (myocardial infarction – MI and
angina pectoris - AP). Participants were inpatients at the cardiology unit at a central
hospital in the northern region of Portugal. The experimental group (EG) included 65
patients and the control group (CG) 56. The study design was experimental (randomized
controlled trial) with randomization of subjects by two conditions (EG / CG), and
longitudinal, including assessments at four time points: pre-test (T1: inpatient
admission), post-test (T2: hospital discharge), 1 and 2 months follow-up (T3 and T4).
The equivalency of the groups at pre-test was tested. The brief psychological inpatient
intervention programme consisted of 2 sessions of 1 hour and 15 minutes, implemented
during hospitalization, and one follow-up session lasting 20 minutes. The measures used
to assess outcome variables targeted during the intervention were: depression and
anxiety (HADS), illness cognitions (IPQ-B), knowledge about the disease and treatment
(ACS Knowledge Questionnaire) and health habits and life-style (Health Habits
questionnaire). Four Hypotheses were tested: Hypothesis 1 predicted a significant effect
of the biopsychosocial intervention (EG) from pre to post-test, with better outcomes for
the experimental group (EG) than for the control group (CG) in terms of emotional
state, illness cognitions, knowledge about the disease and health habits. Hypothesis 2
predicted the maintenance of these gains over the 1 and 2-month follow ups. Hypothesis
3 predicted that the emotional state, illness cognitions and knowledge about the disease
at pre-test, would moderate the impact of the intervention on the psychosocial
outcomes; Hypothesis 4 predicted a significant effect of the type of medical intervention
(with or without cirurgy) on the psychosocial outcomes at discharge and follow-ups.
Exploratory Analyses explored the impact of demographic and clinical variables on the
psychosocial variables at pre-test and on intervention response. Hypothesis 1 was
confirmed with results revealing a significant positive impact of the intervention, in
comparison to the CG, for the majory of the psychosocial outcomes. The results also
confirmed Hypothesis 2, indicating the maintenance of gains post-intervention at 1 and 2 months follow-ups, and even increased gains at the 2-month follow-up. Hypothesis 3
was confirmed with knowledge about the disease and treatment and illness cognitions
being the most important moderators for the intervention effect in terms of emotional
state. Hypothesis 4 was not confirmed. In terms of the Exploratory Analyses, several
psychosocial variables at pre-test were influenced by demographic factors (sex, age,
civil status and area of residence). Clinical variables did not impact psychosocial
outcomes. Results also indicated a limited effect of demographic and clinical variables
on intervention response. The implications of these results for the development of future
research in cardiac rehabilitation were discussed. The results demonstrated the shortterm
and medium-term efficacy of the intervention program tested in the study,
supporting the positive effect of the intervention on important aspects of cardiac
rehabilitation post-ACS, which are associated with the reduction in cardiac
vulnerability. Namely, there was an improved emotional state, more adaptive illness
cognitions and better health habits. The significant increase in knowledge about the
disease and treatment supports the educational component of the intervention. The
results also reinforced the argument for intervening during the hospital stay, which
constitutes a key period for preventive psychosocial intervention.

Publicação

Ano de Publicação: 2012

Identificadores

ISBN: 101359160