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Processamento semântico bilingue: um estudo com palavras cognates utilizando diferentes métodos de aprendizagem (PTDC/PSI-PCO/104671/2008)

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No estudo do sujeito bilingue, distinguem-se claramente duas linhas de divisão conceptuais (Grosjean, 2001) que têm despertado o interesse de investigadores de disciplinas afins e que, no entanto, continuam sendo objeto de estudo: uma dimensão organizacional, que atende a maneira na qual se representam as duas línguas na memória do bilingue, e uma dimensão operacional, que atende aos mecanismos que operam sob esta organização particular.

É dentro deste marco referencial que se enquadra o nosso estudo, que objetiva contribuir para o esclarecimento do funcionamento e arquitetura da memória bilingue, de maneira tal que os resultados ajudem tanto para a prática educativa no ensino de um novo idioma, como para a prática clínica na recuperação linguística em sujeitos afásicos. Nosso interesse mais recente tem sido principalmente em duas vertentes: por um lado, no estudo do processamento lexical com relação à aprendizagem semântica inicial (Comesaña, Fraga, & Perea, 2005; Fraga, Comesaña, & Perea, 2006), particularmente motivado a investigar se o método de aprendizagem de novo vocabulário modula o tipo de conexões que se estabelecem entre as representações lexicais do novo idioma e a memória semântica, e se estas conexões se mantêm com o tempo (e.g., Comesaña, Perea, Piñeiro, & Fraga, 2008); e, por outro lado, no estudo do processamento léxico-semântico que ocorre durante a realização de diferentes tarefas nas quais se controla e/ou manipula o tipo de palavras que se apresentam aos sujeitos. Por exemplo, palavras que ocorrem com diferentes frequências: alta (quando utilizadas frequentemente) ou baixa (quando utilizadas com menor frequência) e/ou palavras com diferentes graus de cognatas: cognatas (quando partilham forma e significado com a sua tradução na outra língua) x não cognatas (quando partilham apenas o significado). O estudo de este tipo de palavras é extremamente interessante para tentarmos clarificar como a memória bilingue se estrutura. Com relação a isso, são muitos os que têm tentado explicar o processamento diferencial que caracteriza este tipo de palavras (maior precisão e velocidade no reconhecimento e produção das cognatas sobre as não cognatas) oferecendo diferentes propostas teóricas para tal efeito. Concretamente, distinguem-se, atualmente, três alternativas distintas. De forma muito sucinta: a primeira defende que a origem de tais diferenças está ao nível semântico, isto é, em função do grau de sobreposição conceitual que caracteriza as palavras cognatas e não cognatas (e.g., Van Hell & de Groot, 1998); a segunda advoga por um nível de representação diferente para estas palavras atendendo à morfologia, o que explicaria as diferenças observadas em perceção e produção (e.g., Sánchez-Casas & García-Albea, 2005); e a terceira nega a existência de uma organização distinta, salientando mais a semelhança fonológica como causa do benefício no processamento observado para palavras cognatas (e.g., Costa, Caramazza, & Sebastián-Gallés, 2000; Hoshino y Kroll, 2008).

Assim, devido à falta de estudos realizados sobre o desenvolvimento do léxico bilingue com relação à aprendizagem semântica inicial (Ping Li, 2004), mais  concretamente no que se refere ao estabelecimento de ligações entre as entradas lexicais da segunda língua e o sistema conceitual, e como consequência também da divergência de propostas teóricas sobre qual a origem do processamento diferencial observado para palavras cognatas e não cognatas, nasce o nosso trabalho de investigação com duplo objetivo: primeiramente, estudar o desenvolvimento léxico-semântico em estágios absolutamente iniciais de aquisição de novo vocabulário, manipulando-se o método de aprendizagem de vocabulário empregado e o tipo de palavra que o sujeito deverá aprender. Estas variáveis são fundamentais para entender a arquitetura da memória bilingue. Em segundo lugar, dar continuidade aos estudos internacionais já existentes para clarificar a origem do efeito de cognatas. Nosso objetivo final é aportar dados de estimável valor heurístico que contribuam ao esclarecimento sobre qual proposta teórica, dentre as anteriormente citadas, ajusta-se melhor aos resultados obtidos. Para tal, planejaremos uma série de experimentos nos quais se manipulam determinadas variáveis lexicais e semânticas que são importantes para se poder falar tanto de um nível de representação diferente para este tipo de palavras, como para um mecanismo de interação entre os diferentes níveis representativos (sublexicais, lexicais e semânticos) que justifique o efeito de cognatas.

Nossos resultados terão implicações teóricas importantes para os atuais modelos de reconhecimento de palavras e de produção linguística e para a prática educativa e clínica. Também contribuirão para alavancar estudos psicolinguísticos nesta área de investigação, que até o momento tem sido pouco explorada ao nível nacional.

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Investigador Responsável