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Processamento neural de emoções na face: um estudo eletrofisiológico com crianças em acolhimento residencial vítimas de ameaça e/ou privação

Processamento neural de emoções na face: um estudo eletrofisiológico com crianças em acolhimento residencial vítimas de ameaça e/ou privação

Vilela, Beatriz da Conceição Cesário

| 2023 | URI

Tese

Dissertação de mestrado em Psicologia Clínica na Infância e Adolescência
As experiências adversas na infância, tal como a exposição ao abuso e/ou negligência e a
subsequente colocação da criança que é vítima destas experiências em contexto de acolhimento
residencial, parecem afetar o processamento neural de expressões emocionais faciais da criança.
Particularmente, os estudos de potenciais evocados relacionados a eventos (ERP) sugerem alterações
na resposta neuroelétrica a expressões emocionais faciais nas crianças em idade pré-escolar vítimas de
maus-tratos em geral, nomeadamente hiper/hipoativação cortical para faces de raiva nas crianças em
contexto familiar e para expressões faciais em geral nas crianças em acolhimento residencial.
Desconhece-se, no entanto, de que forma o processamento neural de expressões emocionais faciais é
afetado pelo tipo de experiência adversa a que estas crianças estiveram expostas. Partindo desta lacuna,
o presente estudo analisou a resposta neuroelétrica a expressões faciais não-familiares distintas (raiva,
alegria, neutralidade) em função do tipo de experiência adversa vivenciada por um grupo de crianças
entre os 3 e os 6 anos de idade em acolhimento residencial. Recorrendo aos ERP, analisou-se a
amplitude e a latência em P100, N170, P250, P400 e Nc em resposta às expressões faciais,
apresentadas durante uma tarefa processamento facial Go-NoGo, numa amostra de 69 crianças que,
de acordo com o tipo de experiências adversas por elas vivenciadas, foram distribuídas por 4 subgrupos
distintos: sem ameaça/menor privação; sem ameaça/maior privação; com ameaça/menor privação;
com ameaça/maior privação. No geral, os resultados sugerem um padrão de resposta neuroelétrica
oposto entre as crianças vítimas de ameaça e as crianças vítimas de privação. Especificamente,
sensibilidade aumentada (aumento de amplitude em N170) e perceção de saliência diminuída
(diminuição de amplitude em P400) em resposta à face de raiva nas crianças vítimas de ameaça (ainda
que igualmente expostas a menor ou maior privação); sensibilidade diminuída (diminuição de amplitude
em N170) e perceção de saliência aumentada (aumento de amplitude em P400) em resposta à face de
raiva nas crianças vítimas de maior privação. Conclui-se assim, que o tipo de experiência adversa a que
as crianças são expostas parece afetar de forma distinta a resposta neuroelétrica a expressões faciais e
que a exposição das crianças a maior privação poderá colocá-las numa situação de particular fragilidade
face à ameaça.
Adverse childhood experiences, such as exposure to abuse and/or neglect and subsequent
placement of the child who is the victim of these experiences in residential care, seem to affect the neural
processing of the child's facial emotional expressions. Particularly, studies of event-related evoked
potentials (ERP) suggest changes in the neuroelectric response to facial emotional expressions in
preschool children who are victims of maltreatment in general, namely cortical hyper/hypoactivation for
angry faces in children in context family and facial expressions in general in children in residential care.
It is unknown, however, how the neural processing of facial emotional expressions is affected by the type
of adverse experience to which these children have been exposed. Based on this gap, the present study
analysed the neuroelectric response to different unfamiliar facial expressions (angry, happy, neutrality)
as a function of the type of adverse experience experienced by a group of children between 3 and 6 years
of age in residential care. Using ERPs, amplitude and latency were analysed at P100, N170, P250, P400
and Nc in response to facial expressions, presented during a Go-NoGo facial processing task, in a sample
of 69 children who, based on the type of adverse experiences they have experienced, were distributed
into 4 distinct subgroups: no threat/lesser deprivation; no threat/greater deprivation; with threat/less
deprivation; with threat/greater deprivation. Overall, the results suggest an opposite neuroelectric
response pattern between threatened and deprived children. Specifically, increased sensitivity (amplitude
increase in N170) and decreased salience perception (amplitude decrease in P400) in response to the
angry face in children who were victims of threat (regardless of lesser or greater deprivation exposure);
decreased sensitivity (amplitude decrease in N170) and increased salience perception (amplitude
increase in P400) in response to the angry face in children who were victims of great deprivation. It is
thus concluded that the type of adverse experience to which children are exposed appears to differently
affect the neuroelectric response to facial expressions, and that the exposure of children to greater
deprivation may place them in particularly vulnerable situation when faced with threat.

Publicação

Ano de Publicação: 2023

Identificadores

ISSN: 203339320