Experiência da sintomatologia emocional e sua relação com a adaptação académica dos estudantes do Ensino Superior
Miguel, Alcino Chimuco
Tese
Tese de doutoramento em Psicologia Aplicada
A frequência do Ensino Superior (ES) é um processo cheio de desafios que o estudante precisa de enfrentar com equilíbrio emocional, sob o risco de desistência e/ou mau rendimento académico. O primeiro ano de frequência universitária é um período determinante para a qualidade da adaptação e bem-estar dos estudantes que ingressam no ES. É caracterizado por várias experiências e mudanças que ocorrem nas vidas dos estudantes, resultantes de mudança de residência, da correspondência entre o curso frequentado e a ordem da sua opção, do estatuto de estudante, do período de formação (diurno ou noturno), entre outras. Para muitos estudantes, essas mudanças e experiências são potencialmente geradoras de problemas emocionais, que podem impactar as vivências académicas e, por conseguinte, a adaptação académica. Como qualquer processo de mudança, a transição para o ES pode provocar alguma instabilidade emocional, que pode ser normativa, se for temporária e adequadamente confrontada. No entanto, o prolongamento dessa instabilidade emocional ou a ausência de respostas preventivas do seu agravamento podem tem importantes repercussões na adaptação e permanência do estudante no ES. Assim, é importante identificar, precocemente, os riscos de instabilidade emocional e ajudar o estudante a mobilizar recursos e a realizar respostas adaptativas para que o processo de adaptação académica ocorra de forma desejada. A presente tese teve como objetivo principal caracterizar a prevalência de sintomatologia compatível com sintomatologia emocional (depressão e ansiedade) em estudantes angolanos do ES e avaliar a sua relação com a adaptação académica. Para respondermos a este objetivo, realizámos um estudo de natureza quantitativa, na medida em que foram usadas técnicas quantitativas para sumariar de forma numérica, grandes quantidades de informação com vista a obtenção de descrições, relações e explicações estatísticas, transversal, na medida em que os dados de cada indivíduo foram recolhidos num único momento, comparando-se grupos de estudantes com base nas variáveis avaliadas, descritivo e correlacional, pois procurámos explorar as relações que pudessem existir entre variáveis. Os principais resultados indicaram que a variável sexo e a variável idade foram determinantes, quando associadas às variáveis sociodemográficas (período de formação, estatuto de estudante, ordem de opção de curso e saída de casa) na sintomatologia emocional relatada (Depressão e Ansiedade) e nas dificuldades de adaptação académica dos estudantes que ingressaram pela primeira vez no ES. Ainda se constatou a existência de uma correlação negativa entre as dimensões do QVA-r e dos itens de Depressão e de Ansiedade, ou seja, as dificuldades de adaptação académica relatadas, associaram-se à sintomatologia emocional relatada pelos estudantes e vice-versa. Além do estudo quantitativo, esta tese inclui um estudo de natureza qualitativa, complementar ao estudo quantitativo, cujo objetivo consistiu em compreender a experiência académica e o bem-estar dos estudantes do ES em fase de pandemia Covid-19. As conclusões deste estudo sustentam que as experiências dos estudantes identificadas sobre a Covid-19 durante o confinamento (e. g.: experiência negativa e difícil, perda académica, ameaça à sustentabilidade da formação), poderão os impactar, mas não se sabe a forma como estas experiências irão repercutir-se na saúde mental dos estudantes e no seu desempenho académico. Este estudo qualitativo também permitiu concluiu que, apesar das implicações negativas do confinamento em termos académicos e em termos pessoais, os estudantes mobilizaram recursos para enfrentar o próprio período de confinamento e a sua experiência nessa altura de modo a promover a sua resiliência. A tese termina com uma conclusão geral que inclui os principais resultados de ambos os estudos, cujas recomendações consistem em tomada de medidas que podem passar pela criação de condições para o seguimento psicológico dos estudantes da nossa população e não só, tendo em conta os fatores de risco e protetores especificados, assim como poderão ter em conta o período da pandemia Covid-19, que pode ter deixado sequelas cuja manifestação poderá ser a curto ou mesmo a longo prazo e é necessário implementar medidas de prevenção do agravamento do seu impacto.
Attending Higher Education (HE) is a process full of challenges that the student needs to face with emotional balance, at the risk of dropping out and/or poor academic performance. The first year of university attendance is a decisive period for the quality of adaptation and well-being of students who enter ES. It is characterized by various experiences and changes that occur in students' lives, resulting from a change of residence, the correspondence between the course attended and the order of their choice, the status of the student, and the period of training (day or night), among others. For many students, these changes and experiences are potentially generating emotional problems, which can impact academic experiences and therefore academic adaptation. Like any process of change, the transition to HE can cause some emotional instability, which can be normative, if it is temporarily and adequately confronted. However, prolonging this emotional instability or the absence of preventive responses to its worsening can have important repercussions on the student's adaptation and permanence in HE. Thus, it is important to identify early the risks of emotional instability and help the student mobilize resources and carry out adaptive responses so that the academic adaptation process occurs in the desired way. The main objective of this thesis was to characterize the prevalence of symptoms compatible with emotional symptoms (depression and anxiety) in Angolan students in ES and to evaluate its relationship with academic adaptation. To respond to this objective, we carried out a quantitative study, as quantitative techniques were used to summarize in numerical form, large amounts of information to obtain descriptions, relationships, and statistical explanations, cross-sectional, in that the data of each individual were collected at a single time, comparing groups of students based on the variables evaluated, descriptive and correlational, as we sought to explore the relationships that could exist between variables. The main results indicated that the variable gender and the variable age were determinants when associated with the sociodemographic variables (period of training, student status, order of course option, and leaving home) in the reported emotional symptomatology (Depression and Anxiety) and in the difficulties of academic adaptation of the students who entered the HE for the first time. It was also found that there was a negative correlation between the dimensions of the QVA-r and the items of Depression and Anxiety, that is, the difficulties of academic adaptation reported were associated with the emotional symptomatology reported by the students and vice versa. In addition to the quantitative study, this thesis includes a qualitative study, complementary to the quantitative study, whose objective was to understand HE students' academic experience and well-being in the Covid-19 pandemic phase. The conclusions of this study argue that the students' experiences of Covid-19 identified during confinement (e.g.: negative and difficult experience, academic loss, threat to the sustainability of training), may impact them, but it is not known how these experiences will impact students' mental health and academic performance. The qualitative study also found that, despite the negative implications of lockdown in academic and personal terms, students mobilized resources to cope with their lockdown period and their experience at that time to promote their resilience. The thesis ends with an overall conclusion that includes the main results of both studies, whose recommendations consist of taking measures that may include creating conditions for the psychological monitoring of students in our population and beyond, taking into account the specified risk and protective factors, as well as taking into account the period of the Covid-19 pandemic, which may have left sequelae whose manifestation may be short or even long term and it is necessary to implement measures to prevent the worsening of its impact.